A "ver navios" e não só"!
- David Santiago

- 21 de jul. de 2017
- 3 min de leitura
Por David Santiago, jurista, mediador, formador, cidadão.
Gosto de caminhar quando tenho algum tempo livre e habitualmente, caminho durante 30 minutos do meu tempo de almoço.
Costumo deambular um pouco pelas ruas de Lisboa, apreciando a arquitectura, e as marcas que a história deixou nesta cidade moderna, mas com uma data de fundação anterior à colonização romana.
Gosto de meditar na forma como convivemos e vivemos numa cidade tão antiga...e tão moderna ao mesmo tempo...gosto de comparar as nossas atitudes com aquelas que teriam tido os nossos concidadãos de há séculos atrás.
Penso muitas vezes, enquanto observo uma aeronave sobrevoar o céu de Lisboa, de e para o aeroporto (que nesta cidade está localizado bem no seu centro), naquele velho ditado português "estar a ver navios no Alto de Santa Catarina"...este ditado resumia uma coeva atividade dos lisboetas, que apreciavam o ir e voltar das naus da Carreira das Índias" nos séculos XVI e XVII...como eu costumo fazer em relação às aeronaves das diversas "carreiras" ou rotas que servem esta cidade.
Durante a minha caminhada habitual, gosto especialmente de observar pessoas...porque gosto de pessoas e porque gosto de observar padrões. É fácil perceber alguns "tipos" se diariamente nos dispusermos a observar as pessoas que passam por nós...o "tipo" apressado, o descontraído, a jovem que ambiciona ser mulher, a senhora que procura parecer jovem, o mendigo profissional e o sem-abrigo (por desventura do destino, por falta de opção), mas também os executivos, bancários, funcionários públicos , e tantos...tantos tipos diferentes!
Apesar das diferenças todos nós acabamos por assumir um papel, uma personagem (do Grego "máscara"), são as nossas identidades sociais, que determinam como nós nos vemos, como os outros nos veem e que normalmente é muito diferente daquilo que nós realmente somos...dai dizer-se que num conflito, com duas partes, interagem 6 "pessoas"!
Observo naturalmente muitas interações pessoais durante as minhas caminhadas, mas gosto sobretudo de me centrar nas relações intra-pessoais, e nos conflitos intra-psiquicos...os meus próprios e os daqueles que me rodeiam.
Recordo da minha última caminhada (ainda hoje) uma cena que se repete frequentemente: uma jovem mulher e um homem de meia-idade que atravessaram o jardim, pisando a relva e os canteiros...fiquei a pensar por que razão teriam feito isso, existindo calçada para fazerem o mesmo percurso, sem danificarem o jardim!
Fiquei a pensar no que aconteceria se os interpelasse, se perguntasse porque o haviam feito, se tinha sido por conveniência, para maior rapidez, porque não gostavam de espaços verdes...ou simplesmente porque, julgavam,ninguém os estava ver...pelo menos por ninguém que conhecessem!
Estes comportamentos causam-me alguma perplexidade, porque todos ouvimos, lemos e vemos, as notícias sobre as promessas eleitorais dos políticos, de que vão criar ou criaram muitos espaços verdes para fruição dos seus eleitores, porque eles alegadamente exigem a sua criação e manutenção...com elevados custos que os nossos impostos pagam!
Provavelmente os políticos andam a ser enganados...por nós!
Porque o que os cidadãos não querem saber dos espaços verdes quando estão com pressa em ir de um ponto A para um ponto B...espezinham e destroem o que estiver no seu caminho, se não for um espaço à frente da respectiva residencia...ou se for num local onde ninguém os conhece, como uma rua ou uma praça da grande e anónima Lisboa.
Como se mudam estes comportamentos? Como se utilizam mais eficaz e eficientemente os nossos impostos?
Com educação, naturalmente. Mas também com a auto-análise e auto-critica, num diálogo interno que todos temos de fazer, e talvez perguntar: se o meu vizinho, o meu chefe, o meu professor ou o meu patrão estivesse aqui eu fazia isso?
Se fosse a porta de minha casa eu faria o mesmo?
Todos podemos fazer essa auto análise ou pedir a um amigo, ou familiar que dialogue connosco sobre temas como estes...ou então pedir a um Mediador comunitário ou civil (como os que a Albert Square Mediation tem...), para trabalhar connosco e com os nossos vizinhos ou concidadãos, para que possamos realmente fazer diferente e garantir o bem estar nos espaços comuns que utilizamos em cidades e aldeias tão belas e antigas (milenares) como a de Lisboa!
Para podermos durante mais uns quantos séculos, continuar a usufruir e não meramente a "ver navios no Alto de Santa Catarina" (ou como eu, aviões no Campo Pequeno...)!



























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